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Fórmula 1

Ayrton Senna e Nelson Piquet: inimigos declarados

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A rivalidade entre Ayrton Senna e Nelson Piquet: mais que adversários, inimigos declarados. Foto: Reprodução

Ayrton Senna e Nelson Piquet: mais que adversários, inimigos declarados. Foto: Reprodução

O Grande Prêmio do Brasil de 1988, realizado no Autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, não ficou marcado apenas pela estreia de Ayrton Senna na McLaren ou pela primeira corrida de Nelson Piquet pela Lotus. Ele simbolizou o auge de uma rivalidade que extrapolava as pistas e se desenrolava com intensidade nos bastidores da Fórmula 1.

Embora ambos fossem ícones do automobilismo brasileiro, Senna e Piquet nunca foram amigos. Suas diferenças iam além de estilos de pilotagem: divergiam em personalidades, formas de lidar com a mídia e até na maneira como enxergavam a competição.

Origens da rivalidade

Desde que Ayrton Senna chegou à Fórmula 1, em 1984, Nelson Piquet, já bicampeão, demonstrava desconforto com a ascensão do jovem piloto. Piquet, conhecido por seu humor ácido e declarações provocativas, frequentemente minimizava os feitos de Senna, enquanto Ayrton, mais reservado, raramente respondia publicamente.

A rivalidade ganhou corpo à medida que Senna se estabelecia como uma força dominante na Fórmula 1. Piquet, que havia conquistado seu terceiro título mundial em 1987, via no compatriota um concorrente direto à atenção da mídia e ao carinho dos fãs brasileiros. A relação, que já era fria, tornou-se insustentável em 1988, quando as provocações de ambos escalaram para ataques pessoais.

Troca de farpas explosiva

Em março de 1988, durante os testes coletivos no Rio de Janeiro, Ayrton Senna, em entrevista ao Jornal do Brasil, fez uma provocação que soou como um ataque direto a Piquet:

“Eu tinha que dar aos outros uma chance de aparecer um pouco. Afinal, não fazia sentido o cara ser tricampeão e eu continuar sendo assunto. Já que ninguém gosta muito dele, o único jeito era eu sumir para que ele pudesse aparecer um pouco.”

Embora a declaração tenha sido destacada como uma brincadeira, Nelson Piquet reagiu de forma agressiva, disparando uma frase que caiu como uma bomba:

“Senna estava desaparecido por esses meses não foi para me deixar aparecer. Foi para não ter de explicar à imprensa brasileira por que não gosta de mulher.”

O comentário, que insinuava questionamentos à sexualidade de Ayrton, foi visto como um ataque pessoal e ultrapassou qualquer limite de rivalidade esportiva. Senna ficou furioso e cogitou confrontar Piquet diretamente nos boxes da Lotus, mas foi contido para evitar sanções que prejudicassem sua participação no GP do Brasil.

Na pista: supremacia de Senna, restrições de Piquet

Quando a corrida começou, a rivalidade se transferiu para a pista. Ayrton Senna, com o potente McLaren MP4/4, dominou os treinos e largou na pole position, enquanto Nelson Piquet enfrentava dificuldades com o fraco chassi de sua Lotus e partiu do quinto lugar.

Senna, após enfrentar problemas no câmbio e largar do final do grid, fez uma recuperação impressionante até alcançar Piquet. O momento, cercado de tensão, foi acompanhado com cuidado até pelos narradores Galvão Bueno e Reginaldo Leme, que pediam serenidade de ambos os lados.

No entanto, o confronto foi breve. Com um carro muito superior, Ayrton ultrapassou Piquet facilmente e seguiu em busca das primeiras posições, embora tenha sido desclassificado por trocar de carro antes da largada. Piquet terminou a corrida em terceiro, longe de qualquer chance de vitória.

Por que nunca se entenderam?

A rivalidade entre Ayrton Senna e Nelson Piquet nunca foi apenas esportiva. Piquet, irreverente e provocador, via no jovem Senna uma ameaça ao seu status de principal piloto brasileiro da época. Já Ayrton, focado e reservado, evitava se envolver em disputas fora da pista, mas não deixava de responder às provocações de Piquet quando ultrapassavam limites.

Em entrevistas posteriores, Piquet admitiu que muitas de suas provocações tinham o objetivo de desestabilizar Senna emocionalmente, enquanto Ayrton preferia deixar suas respostas para as pistas.

Um respeito silencioso

Apesar da tensão constante, houve momentos de respeito entre os dois pilotos. Em 1992, Ayrton gravou uma mensagem para Nelson após o grave acidente nas 500 Milhas de Indianápolis. Em 1994, com a morte trágica de Senna, Piquet demonstrou abalo, mas admitiu que nunca conseguiu construir uma amizade com o antigo rival.

A rivalidade entre Senna e Piquet não era apenas sobre quem era o melhor piloto. Era um confronto de estilos, personalidades e gerações, que marcou uma era da Fórmula 1 e dividiu fãs até os dias de hoje.

Fonte: Fred Sabino / Globo.com

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