Luciano Dubiba na maior onda já registrada na Bahia. Foto: Xande Guedes
O dia 27 de junho de 2021 foi marcante para muitos surfistas baianos, especialmente para Luciano Costa, o “Dubiba”. Na época, com 52 anos, ele foi abençoado com uma bomba impressionante no lendário pico do Banco de Santo Antônio, apontada por muitos como a maior onda já surfada no litoral do Estado. Para alguns especialistas, a “bomba” chegou aos 18 a 20 pés (cerca de 6 metros de altura). A façanha de Dubiba, inclusive, colocou o atleta na disputa pelo Prêmio Brasileiro de Ondas Grandes.
Por muitas décadas, o Banco de Santo Antônio alimentou os sonhos dos surfistas mais fissurados de Salvador, mas foi pouquíssimas vezes desafiado devido à dificuldade com a logística para chegar e permanecer no pico, repleto de fortes correntezas e ondas potentes que quebram em diferentes direções. Surfistas mais audaciosos como Maurício Abubakir, Aloíso “Lôro” Melo e Hilton Issa já haviam tentado desafiar a bancada no passado, mas sem a estrutura necessária.
Em 2014, Luciano Dubiba fez a sua primeira investida na área, remando por quase dois quilômetros ao lado do amigo Gustavo Kombi, ambos sem auxílio algum de barco ou jet-ski. Na água também estavam Maurício Abubakir e Genauto França, com pranchas de paddleboard, Eloy Lorenzo e Afrânio Júnior, que foram de barco.
Desta vez, a situação foi diferente. Contando com uma estrutura mais adequada, e acompanhado de outros surfistas experientes, como Lapo Coutinho, Armando Daltro, Eloy Lorenzo e Jeferson Goés, Dubiba teve uma oportunidade melhor de desafiar as extremas condições proporcionadas por um forte swell de sudeste.
Dubiba em sua primeira investida no Banco de Santo Antônio, em 2014. Foto: Arquivo pessoal
A onda do dia
Questionado sobre os obstáculos enfrentados na session, ele explica: “A primeira é a distância de quase 2km da costa. Existe também a forte correnteza, e as condições de maré podem mudar rapidamente, fazendo com que o surfista precise estar preparado para enfrentar adversidades”.
A onda do dia veio ao apagar das luzes. “Já quase no fim da sessão, estava fazendo dupla com Lapinho. Como já tínhamos avistado séries entrando lá fora, decidimos esperar a bomba, e foi o que aconteceu. Surgiu uma série de três ondas e Lapinho começou a me puxar ainda mais para o outside. Passamos as duas primeiras e ele virou na última, que realmente foi a maior do dia. A sensação foi de extrema gratidão e felicidade”, conta Dubiba.
O free surfer destacou também as performances na remada de Heloy Júnior, outro big rider casca-grossa que estava no Banco de Santo Antônio. “Para mim, Heloy é nível ET (extraterrestre). Com certeza é um dos melhores big riders do Planeta. A sintonia dele com o oceano é sobrenatural”, exalta Dubiba.
O free surfer em ação no Farol de Itapuã, uma das bancadas da região em que foi criado. Foto: Jairo Flores
Cria de Itapuã
Criado na Pedra do Sal, em Itapuã, e surfista desde os 10 anos, Luciano Dubiba desde cedo mostrava apetite por ondas mais cascudas. “Logo que eu comecei a surfar, o meu objetivo era pegar a maior onda do dia”, conta o baiano, que cresceu surfando ao lado de grandes nomes da modalidade que já frequentavam as bancadas de pedra de Itapuã e passavam temporadas de inverno no Havaí.
Dono de uma empresa que oferece serviço de transportes e turismo, a Lucky Tour, Dubiba sempre teve o surf como hobby. Um verdadeiro surfista de alma que sempre marcou presença nos dias de ondas pesadas e nunca se preocupou em se promover. Desconhecido por muitos, mas bastante respeitado e admirado por quem acompanha a sua fissura pelo esporte e atitude.
Em suas experiências internacionais, já esteve em lugares desafiadores como Pico Alto, no Peru, Jaws e Sunset, no Havaí, Puerto Escondido, no México, e Pichilemu, no Chile. Uma ótima bagagem.
Luciano Dubiba com o parceiro Lapo Coutinho, . Foto: @jsurf.bahia
Parceria de peso
No ano passado, com o retorno de Lapo Coutinho para Salvador (BA), depois de viver por anos em Maresias (SP), Dubiba ganhou um grande parceiro. Equipado com um jet, Lapinho passou treinar com o amigo e a planejar sessões como essa no Banco de Santo Antônio.
“Conheço Lapinho desde que nasceu. Devido à dedicação dele ao esporte, ao profissionalismo, e por ser muito tranquilo, tivemos uma grande afinidade e a partir daí conseguimos montar uma logística e estrutura para praticar tow-in, contando com bons equipamentos e muitas horas de treino”, conta o free surfer.
Luciano Dubiba conta que a busca pelos picos mais insanos não vai parar por aí. “Lapinho criou o projeto Bahia Surf Experience, e uma das nossas metas é descobrir novas bancadas que já estão traçadas no mapa”, revela Dubiba.
A parceria já foi inaugurada com chave de ouro. Agora é aguardar as cenas dos próximos capítulos. Com uma extensa costa, a Bahia tem potencial para apresentar outras bancadas preciosas nunca exploradas. O que será que vem por aí?
Veja mais imagens do Banco de Santo Antônio
Para Dubiba, “Heloy Júnior é um ET”. Foto: Xande Guedes
Luciano Dubiba em meio à imensidão do Banco de Santo Antônio. Foto: Xande Guedes
Dubiba e a bomba do dia no Banco de Santo Antônio. Foto: Xande Guedes
A onda do baiano deve entrar no páreo pelo Prêmio Brasileiro de Ondas Grandes. Foto: @_IcaroFotografias
Banco de Santo Antônio quebrando no swell de 2014. Foto: Jeferson Goés